quarta-feira, 25 de abril de 2012

Pra viver

Com você
Eu não faria pactos
Não selaria acordos
Só furaria meu corpo
E seria feliz

Com você
Eu não casaria
Papéis não assinaria
E nem temeria
Viver por um triz

Eu faria as malas
Juntaria as tralhas
E sairia a correr
Daria a alma
A música, a calma
Tatuaria você

E se não faz sentido
Não me dê ouvidos
Mas vai se arrepender
Eu faço uma aposta
E quero a resposta:

Do que vale a vida
Se não pra viver?


domingo, 22 de abril de 2012

Página nº ?

Quem é? É você?

Sim, é você. Eu sei. É você que está aí do lado de fora a bater. Eu conheço o seu jeito e sei quem você é. Conheço essas batidas... Mas o que você faz aí? Agora?

E corro, abro a porta: é você!
Mas você não entra. Fica parado à porta, só a me olhar. Uma chuva fina cai, mas você já está molhado e vem de longe. Você emana um ar misto de cansaço e indiferença e de repente você fala e é apenas um "...você tem um café?" Essa é a sua forma de se aquecer. Sirvo o café, você toma um gole e desvia o olhar. Eu receio te convidar a entrar e então continuamos ali: imóveis, imparciais. Meu pensamento voa. Multiplica-se e divide-se entre lembranças e suposições. Eu me perco neles a te olhar. E penso...

"Foi você que vi outro dia. Foi pra você que escrevi. Mandei um recado e nele confessei saudades. É latente a forma como você aparece, desaparece... Vai, volta, re-volta. O movimento é cíclico. Assim como tudo na vida. Assim como os dias que vêm e vão. E, então, como sempre, um dia se passou. E ontem foi você que respondeu. Respondeu o meu recado. Lógico que com toda a sua proposital e ferida indiferença...."

De repente despertamos quase que de sobressalto ao ouvir um canto, ao longe. É bonito, encantador. E canta dor, a minha dor, porque você, embora disfarce, visivelmente se encanta. E eu sei, é aquele (en)canto que te seduz e chama. Então você diz mais algumas palavras. "Vou indo." Eu quero que você fique, mas não falo nada. Não faço nada. Você abaixa a cabeça, uma gota pinga ao seu piscar. É a chuva. Você se vira e se vai. Mais uma vez. E eu continuo imóvel a te olhar. Seu passo é lento. Os primeiros incertos, os próximos decididos. Eu na porta e uma leve pontada no peito a incomodar. Meus pés pregados no chão, pesados. Nó na garganta. E te vendo, uma gota escorre agora dos meus olhos. Não é a chuva. Você desaparece e eu me viro pra voltar a mim. Mas antes me lembro da porta e me certifico de deixá-la entreaberta para, de vez em quando, quem sabe, olhar por ela. E te procurar.

E assim viramos mais uma página da nossa história: em branco.